Técnicos do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) determinaram nesta
quinta-feira (28) a interdição de nove guindastes da obra do estádio
do Corinthians. O decisão de vetar o uso de todos os equipamentos do
tipo ocorre um dia após a queda de uma estrutura metálica de mais de 400
toneladas e de um guindaste que a içava. O acidente provocou a morte de
dois operários.
Os técnicos, que são ligados à Superintendência Regional
do Trabalho e Emprego do Estado de São Paulo (SRTE-SP), participaram de
vistoria às obras nesta manhã. Eles pediram à construtora relatórios que confirmem a segurança dos equipamentos.
O auto
de interdição de todas as gruas da Arena Corinthians vai ser assinado
na sexta-feira (29) pelo superintendente do Ministério do Trabalho em
São Paulo, Luís Antonio Medeiros. "Assim que a empresa comprovar a
segurança na movimentação de cargas, as medidas de proteção que serão
adotadas e que não há mais riscos de acidentes, haverá liberação por
parte do Ministério do Trabalho", afirmou o superintendente.
Em nota,
a Odebrecht e Corinthians confirmaram ter recebido o aviso de "embargo
provisório de operações com guindastes" até a apresentação de
documentação. "A empresa apresentará todos os documentos solicitados no
mais breve prazo de tempo possível", informou a empresa.
A empresa alega que a decisão não interfere no plano de retomar
as obras na segunda-feira (2). "Os trabalhos que não necessitam utilizar
guindastes serão executados normalmente, excetuada a área interditada
pela Defesa Civil -- correspondente a 30% do prédio Leste e a menos de
5% da área da Arena", informaram construtora e empresa em nota.
"Exemplos de trabalhos que não utilizam guindastes são
instalações elétricas e hidráulicas, de assentos definitivos, de
revestimentos de pisos, paredes e forros e de sistemas de som. Também os
trabalhos de acabamento nas áreas externas da Arena, como acessos para veículos e torcedores, estacionamentos e muros, prosseguirão normalmente", informa o texto.
Movimentação suspeita
Uma análise inicial de peritos aponta como provável causa do
acidente com o guindaste na Arena Corinthians a movimentação irregular
da peça de mais de 400 toneladas que completaria a cobertura metálica. O
balanço da peça pode ter desestabilizado o guindaste, provocando a
queda da máquina.
A análise aponta que a técnica usada para erguer a estrutura não foi a mais adequada.
Os técnicos do Instituto de Criminalística também estão avaliando
a resistência do solo no local e se as peças da grua apresentavam algum
desgaste.
Técnicos alemães da empresa que fabricou o equipamento vêm ao
Brasil para ajudar nas investigações. Os documentos da obra, como
projetos, treinamento dos funcionários, manutenção dos equipamentos e
fundações vão começar a ser analisados a partir de segunda-feira (2).
Investigação da Polícia Civil
A Polícia Civil de São Paulo abriu inquérito para apurar se houve
falha humana, defeito no guindaste e instabilidade do terreno são as
principais hipóteses investigadas pela para tentar encontrar a causa do
acidente. “Tem que apurar se houve falha humana, problema mecânico ou
instabilidade do terreno”, disse nesta quinta-feira (28) o delegado Luiz
Antonio da Cruz, titular do 65º Distrito Policial, Artur Alvim.
O delegado e seus investigadores apuram as circunstâncias e
eventuais responsabilidades pela queda de parte da cobertura do estádio
que era içada por um guindaste que tombou, derrubando a peça de cerca de
400 toneladas sobre dois funcionários.
O motorista Fábio Luiz Pereira, de 41 anos, que estava dormindo
num caminhão, e o montador Ronaldo Oliveira dos Santos, 43, que estava
perto de um banheiro químico, foram atingidos e morreram.
Inquérito policial apura o crime previsto nos artigos 256 e 258
do Código Penal que tratam, respectivamente, de "causar desabamento ou
desmoronamento, expondo a perigo de vida, a integridade física ou
patrimônio de outrem", e "se do crime doloso de perigo comum resulta
lesão corporal de natureza grave, a pena privativa de liberdade é
aumentada de metade; se resulta morte, é aplicada em dobro. No caso de
culpa, se do fato resulta lesão corporal, a pena aumenta-se de metade;
se resulta morte, aplica-se a pena cominada ao homicídio culposo,
aumentada de um terço”.
No caso de condenação, o artigo 256 determina que a pena vai de um a quatro anos de prisão.
Para tentar esclarecer as causas do acidente, a polícia vai ouvir
depoimentos, entre eles de testemunhas, sobreviventes, operários,
representantes das empresas responsáveis pela obra, Corpo de Bombeiros e
Defesa Civil. Também irá requisitar documentos técnicos da construção e
aguardar o resultado dos laudos periciais da Polícia
Técnico-Científica.
Peritos do Instituto de Criminalística (IC) irão analisar a área
do acidente e determinar o que provocou o acidente. Geralmente, o
resultado dos trabalhos é feito em 30 dias. Quem determina a causa da
morte dos funcionários é o Instituto Médico Legal (IML), que deverá
apontar esmagamento das vítimas.
Cinco pessoas já foram ouvidas pela polícia na quarta-feira,
segundo o delegado: três empregados da Odebrecht, empresa responsável
pela construção da obra, e dois policiais militares que realizaram os
primeiros atendimentos no local do acidente.
'Falha de procedimento'
Também na manhã desta quinta, o coordenador da Defesa Civil em
São Paulo, Paca de Lima, afirmou que, ao inspecionarem o chão onde o
guindaste que desabou estava apoiado, não foi possível perceber qualquer
tipo de falha no solo.
Para ele, o mais provável é que tenha ocorrido "uma falha de
procedimento", mas Paca de Lima não deu mais detalhes da suspeita. "A
perícia que vai dizer a causa do acidente", ressaltou Lima.
Além da Polícia Civil, o Ministério Público Estadual (MPE) e o
Ministério Público do Trabalho (MPT) investigam as causas e prováveis
responsabilidades pelo acidente com mortes no estádio do Corinthians.
A Defesa Civil já havia interditado 30% de uma das alas do
estádio, uma área de cerca de 5 mil metros quadrados. Apesar da
interdição e da nova vistoria, o coordenador do órgão, Jair Paca de
Lima, tinha dito na quarta que as obras poderão continuar nos demais
setores.
O MPE também informou que fará uma vistoria nos próximos dias e
exigirá laudos da Polícia Técnico-Científica para avaliar se pedirá à
Justiça a paralisação total das obras do estádio.
Na manhã desta quinta-feira, nenhum funcionário foi visto
funcionário no canteiro de obras e as máquinas estavam paralisadas. A
Odebrecht e o Corinthians, parceiros responsáveis pelo estádio,
informaram em nota, que as obras da Arena Corinthians serão retomadas na
segunda-feira (2).
FONTE:
G1