Ana Cervi Prado, médica coordenadora do Ciava (Centro Integrado de Assistência às Vítimas de Acidente), um ambulatório montado exclusivamente para recuperar os feridos, onde vão ficar por mais cinco anos, diz que "é como se eles tivessem fumado por mais de cem anos".
Kellen tenta retomar os movimentos das mãos, além de passar por inalações diárias. Ela se tornou um dos símbolos dos sobreviventes. Durante 78 dias — 20 deles em coma, na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) —, a estudante ficou internada em Porto Alegre, com queimaduras de 3.º grau em 20% do corpo. A jovem de 20 anos teve parte da perna direita amputada e enxertos aplicados nos braços. Antes de deixar o hospital.
Quase um ano após aquela madrugada de horror, a jovem de Alegrete voltou às aulas, está novamente morando sozinha e parece pouco se importar com as cicatrizes.
— Estou melhorando, até em boate eu já fui de novo, acredita? Só que agora eu fico bem perto da porta de saída.
O que ela mais quer de volta são os cabelos longos.
— Os médicos falaram que foi meu cabelo comprido que salvou as costas das queimaduras.
Amizades e nova vida
É na sala de espera do ambulatório, no Hospital Universitário da UFSM, que muitos sobreviventes se tornaram amigos e confidentes. É ali que os jovens de idade média de 23 anos encontram sintonia e compreensão para desabafos de uma vida que não para de oscilar entre momentos de alegria, pela nova chance de viver, e a angústia gerada por uma rotina pouco comum entre universitários.
Veja a cobertura completa da tragédia na boate Kiss
No Ciava, Kellen, por exemplo, conheceu Bárbara Feledeto, de 24 anos, que no dia da tragédia completava 1 mês de fim de namoro. Depois, nos 40 dias em que ficou internada entre a vida e a morte em Porto Alegre, o ex-namorado se tornou a pessoa mais presente. Em julho, reataram. Agora, casada, Bárbara está grávida de quatro meses e ainda trata de uma lesão pulmonar grave.
— Os primeiros seis meses de recuperação foram muito difíceis. Mas é incrível como a gravidez colocou novo rumo na minha vida e trouxe uma esperança de tudo novo.
Recomeço
Desde outubro, quando começou a namorar, o tratamento contra a lesão no pulmão se tornou menos angustiante para a estudante Camille Kirinus, de 22 anos, que ficou nove dias na UTI após o incêndio. Na tragédia, ela perdeu 13 amigas.
— Se não fosse meu namorado, não estaria aguentando. Ele não sai do meu lado, me apoia demais. Estou feliz.
— Enquanto isso, em casa, chorando na minha cama, é que não vou ficar. Quero terminar minha faculdade. Quem sabe não consigo fazer mestrado no exterior, né?
FONTE:
r7
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