Os 22 anos de profissão
e a experiência de quem cobriu grandes tragédias não diminuíram o
impacto que o fotógrafo Rogério Soares sentiu ao ver e registrar uma
mulher morrer após ser atingida por um raio na tarde de segunda-feira,
em Guarujá, no litoral paulista. Ainda surpreso com a repercussão que
seu trabalho ganhou, Soares, 40 anos, conversou com Zero Hora no início
da noite desta terça-feira:
Foi absurda a repercussão hoje. Nem eu imaginava
A sequência de imagens que o fotojornalista fez iniciou com a
família se divertindo e terminou com a mulher de 36 anos sendo socorrida
após descarga elétrica. Soares trabalha na sucursal de Guarujá do
jornal A Tribuna, veículo no qual está há 13 anos. Confira a entrevista
concedida por telefone.
O que você fazia no momento do acidente?
Rogério Soares — Sempre acompanho a movimentação na praia
no mês de janeiro. Fazia fotos da praia e do movimento de turistas. Aí,
começou uma mudança brusca no tempo. Apareceram nuvens negras, estava se
formando uma tempestade. Começou a chover forte, fui para o carro, mas
continuei na orla. Estava fotografando as pessoas na chuva,
os turistas. E o que me chamou atenção nesta família é que eles estavam
com o carro na areia, então parei para fotografar as crianças
brincando, a mulher com os filhos. Estava fazendo a sequência. Neste
momento, a mulher entrou na água. Do tempo que ela entrou na água, foram
cinco segundos até ser atingida pelo raio.
Você viu o momento em que ela foi atingida?
Soares — Eu estava fotografando na direção dela. Eu acompanhei
ela entrando e ouvi um barulho muito forte, uma explosão, vi uma luz.
Achei que o raio tinha caído no carro. Em um primeiro momento, não vi
que tinha atingido ela. Depois, enxerguei a movimentação das pessoas
tirando ela e falei: "meu Deus, a moça que eu estava fotografando foi
atingida".
Essa explosão foi muito rápida?
Soares — Foi muito rápida, durou segundos. Tanto que eu
não tive a noção de onde tinha caído o raio. Eu estava com a câmera
apontada para eles, fotografando eles brincando,
a mulher entrando na água. Depois, olhando na câmera, vi que tinha
feito inclusive o raio. Não sabia que ela tinha sido atingida. Só quando
as pessoas tiraram ela da água que eu fui ver que o caso foi grave.
Ficaram uns dois minutos na areia fazendo massagem cardíaca nela.
Qual foi a reação dos familiares? Eles perceberam na hora que ela tinha sido atingida?
Soares — Foi desespero total, as pessoas começaram a correr,
chamar alguém para ajudar. Continuava caindo raios. Resolveram tirar ela
da areia, colocaram na pick-up e levaram para o posto dos bombeiros
mais próximo. Infelizmente, não conseguiram reanimá-la, e ela chegou
morta.
Durante sua carreira, já havia passado por situação semelhante?
Soares — Eu já acompanhei tragédias, cobri aquela na região serrana do Rio,
onde milhares de pessoas morreram. Mas, desta vez, eu presenciei um
pouco da alegria daquela família. Acompanhei a pessoa viva e, de
repente, em cinco segundos, estava retratando a mulher morta. Acho que
foi a situação mais chocante que, em 22 anos de fotojornalista,
presenciei. Era apenas mais uma matéria de praia, começou a virar o
tempo e deu no que deu.
FONTE:
Diário Catarinense
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