“Aquela audiência não foi suficiente. Nós saímos de lá pior do que entramos. Não tivemos respostas de nada, sequer das perguntas que foram feitas. Foi uma reunião que não trouxe solução de nada. Não sabemos, até hoje, o que fazer das nossas vidas”, relata dona Maria Luzinete Coelho, da comunidade Juá.
“Eu poderia até vender ou arrendar as minhas terras, mas minha preocupação maior é com meus vizinhos. Eu sei as consequências que eles podem sofrer. Nós queremos gritar por justiça, porque isso tudo só está acontecendo por causa dos nossos governantes, que não têm compromisso com o povo. É muito humilhante viver nessa situação”, conta dona Luzinete.
Para Fabiana Araújo, uma das dificuldades encontradas até agora são as pressões feitas a partir de visitas constantes dos funcionários da empresa para a venda das terras. “A maneira como eles estão conduzindo essas negociações tem deixado a desejar. Eles não estão valorizando o que levamos anos para construir, como nossas casas, criatórios, cercas, pastos, poços e barreiros. Já foi feito apelo por uma audiência pública. Porém, até agora, não encontramos nenhuma resposta para esse nosso sofrimento, essa angústia. Alguém tem que nos ouvir”.
O desespero de Fabiana não é apenas por ela, mas por todas as famílias que estão envolvidas nesta conjuntura. “Eu não falo apenas em meu nome, mas em nome de mais de 100 famílias que vivem nessa situação de preocupação e desespero, de não saber o que vai ser do amanhã. Eu vou vender minha terra, mas como é que eu vou recomeçar? Tenho preocupação com as pessoas idosas, que têm mais dificuldade de readaptação. Minha mãe, por exemplo, tem mais de 60 anos e eu vejo essa preocupação no rosto dela, essas incertezas do amanhã”.
Durante a reunião, vários encaminhamentos foram feitos, dentre eles estão a formação de uma comissão organizadora, a construção de um relatório que conte a história das comunidades afetadas, a busca de apoio jurídico e planejamento para articulação dos moradores.
Pe. Miguel Feitosa, da paróquia de Simões, esteve presente na reunião, manifestando o seu comprometimento e apoio às famílias. Ele avaliou a reunião de forma positiva, sobretudo nos termos dos encaminhamentos. “A reunião foi muito útil. Depois da audiência em Curral Novo, não houve oportunidade de reunir as pessoas que participaram. Pela primeira vez tivemos a oportunidade de conversar sobre a audiência. Outro ponto importante é a possibilidade de um estudo juntos com os advogados para conhecer melhor as leis, aquilo que compete a nós, de maneira a nos dar forças para lutar por nossos direitos”.
O bispo diocesano, Dom Plínio, participou ativamente da reunião e afirmou que o posicionamento da Igreja é de estar ao lado do povo. “A Diocese já deu o primeiro passo, quando foi cobrada a sua presença. Me sinto contente de participar desse momento, que faz parte das atividades da vida da Igreja, de estar ao lado do povo. As consequências desse projeto devem ser aprofundadas, sobretudo para que as pessoas possam realmente inteirar do que estão abraçando, do que envolve suas vidas. Também a comissão e os advogados que virão. O relatório que contará a sua própria história vai facilitar muito, porque será enviado a todas as comunidades da Diocese, pois somos Igreja que partilha também os sofrimentos”.
Segundo Dom Plínio, o povo está apreensivo diante da realidade em que se encontra. “As pessoas querem saber o que deve ser feito. Essa esperança hoje foi iluminada. Nós não demos soluções, nós apontamos caminhos. Percebemos que há uma liderança entre eles. Muitas dessas pessoas sabem argumentar e falar do assunto com segurança. Na hora em que a maioria tomar consciência, eles podem se unir e conquistar um final contentador. Nós queremos ir até o fim”, concluiu o bispo.
Por Jucilene Silva
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