Nem mesmo o anúncio da redução do valor da tarifa de ônibus em Niterói,
na Região Metropolitana do Rio, feito pela assessoria do prefeito
Rodrigo Neves por volta das 19h, acalmou o protesto na cidade nesta
quarta-feira (19).
A manifestação, que chegou causar a interdição da Ponte Rio-Niterói
preventivamente, durou mais de 7 horas — a maior parte do tempo pacífica
— e atraiu cerca de 5 mil pessoas, segundo a NitTrans. Ao final, os
manifestantes entraram em confronto com a polícia e chegaram a invadir a
estação das Barcas na cidade.
A exemplo do que vem ocorrendo nos demais protestos pelo país, jovens
reclamavam do transporte público e dos gastos com a Copa do Mundo.
Começo pacífico
As primeiras informações sobre a mudança no valor da passagem, que
voltou ao valor antigo — baixando de R$ 2,95 para R$ 2,75 —, chegaram
aos ouvidos dos manifestantes quando eles estavam em frente à Câmara
Municipal de Niterói.
da tarifa de ônibus (Foto: Priscilla Souza/ G1)
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Saúde (Foto: Priscilla Souza/ G1)
Os jovens saíram da Praça Arariboia por volta de 17h e seguiram pelas
avenidas Visconde de Rio Branco e Ernani Amaral Peixoto, duas das
principais vias do Centro, até a Câmara Municipal. O comércio, na
região, foi fechado, apesar do clima de paz. Os ânimos se exaltavam
quando pessoas eram flagradas com camisas ou bandeiras de grupos
políticos. "Sem partido", gritavam alguns.
O estudante de Administração Luiz Fernando Pereira, de 19 anos,
participou do ato pela segunda vez. "A minha expectativa é que tenha
menos violência e mais mobilização. Acho um absurdo um país como o nosso
gastar tanto dinheiro com a Copa enquanto tem gente passando fome. Esse
movimento já saiu do Facebook, veio pra rua e se nacionalizou", afirmou
o manifestante.
Tensão
O primeiro momento de tensão foi quando manifestantes exaltados queriam
furar o bloqueio do Batalhão de Choque na Avenida Visconde de Sepetiba,
onde fica a prefeitura da cidade. Um deles chegou a jogar uma pedra em
um policial, enquanto outra participante do protesto interveio para
tentar acalmar os ânimos. Ana Beatriz Vilela, estudante de Relações
Internacionais, tentou dispersar os manifestantes.
“A gente não quer violência. Isso atrapalha. O problema é que a gente
chegou num ponto de heterogeneidade. Tem muita gente de todos os tipos e
fica difícil segurar", disse. O grupo, então, retornou à Avenida Ernani
do Amaral Peixoto.
Por volta das 19h, um pequeno grupo se descolou da maioria dos
manifestantes seguindo em direção à Ponte Rio-Niterói com o objetivo de
fechar a via. No entanto, o grupo foi surpreendido no meio do caminho,
na Rua Marquês de Paraná, um dos acessos à Ponte, pelo Batalhão de
Choque.
manifestantes (Foto: Priscilla Souza/G1)
Confronto
Em razão da movimentação dos manifestantes, a Polícia Rodoviária
Federal, por segurança, fechou a Ponte Rio-Niterói nos dois sentidos.
O enfrentamento começou na esquina da Rua Marquês de Paraná com a Rua
Andrade Pinto. Os manifestantes atiraram pedras e pedaços de madeira nos
policiais, que revidaram com dezenas de bombas de efeito moral e
disparos de bala de borracha.
O Batalhão de Choque avançou pela via, que ficou interditada ao
trânsito nos dois sentidos, para que o grupo recuasse. Um manifestante
tentou conversar com a polícia, e foi atingido por spray de pimenta no
rosto, sem que tivesse agredido os agentes.
Em meio ao confronto, uma mulher grávida passou mal. Mônica Nascimento
da Silva, que estava com as três filhas, foi socorrida por um morador da
região e recebeu atendimento de médicos voluntários, que pediram apoio
da ambulância do Batalhão de Choque, o que foi negado. "A gente estava
lá na passeata tranquilamente. Quando chegamos aqui perto, começou a
confusão e nós ficamos no meio", disse a filha de Mônica, Larissa.
em protesto em Niterói (Foto: Priscilla Souza/G1)
No momento do atendimento, os policiais jogaram uma bomba de gás
lacrimogêneo na direção dos médicos e da imprensa que acompanhava o
socorro. "A gente estava prestando atendimento à vitima que passou mal
possivelmente por uma crise de ansiedade. Eu fui até os policiais
solicitar uma ambulância e, na hora que eu retornei, nós fomos
covardemente atacados com bombas de gás e spray de pimenta enquanto
ainda realizávamos o atendimento médico. Não conseguimos sequer chegar
ao Copo de Bombeiros para transportar a vitima de maneira adequada.
Agora, eu quero saber da polícia o motivo desta atitude arbitrária”,
contou Marcelo Sá, médico e professor do Hospital Universitário Antônio
Pedro da Universidade Federal Fluminense.
Os manifestantes ainda tentaram resistir, colocando fogo em entulho no
meio da via. O mesmo aconteceu na Avenida Ernani Amaral Peixoto. O G1
presenciou o momento em que um dos manifestantes foi detido. No entanto,
até 22h30 a polícia não havia divulgado o balanço de detidos no
protesto.
Correria nas Barcas
Por volta das 21h, manifestantes invadiram a estação das barcas, na
Praça Arariboia. A PM interveio usando spray de pimenta e a CCR Barcas
interrompeu, por medida de segurança, a circulação de embarcações no
trajeto Rio-Niterói por cerca de 20 minutos. Funcionários da
concessionária chegaram a liberar a entrada de passageiros, sem
necessidade de compra de bilhetes, já que muitos entraram em pânico. A
operação foi retomada às 21h03.
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