“Dinheiro
não cai do céu”, diz um ditado popular bastante conhecido, mas este não foi o
caso de algumas pessoas que encontraram fragmentos da chuva de meteorito que caiu no município de Santa Filomena,
no sertão pernambucano, a 719 km do Recife.
Conforme
o G1 mostrou no domingo (31), quem achou os fragmentos ganhou dinheiro com o comércio das pedras, que estão sendo negociadas com pesquisadores
e ‘caçadores’ de meteoritos.
Porém,
os achados não têm trazido somente riqueza. Também trouxe medo e tensão. Pelo
menos é o que relata o morador que encontrou o maior meteorito no município:
uma peça de 38,2 kg. Receoso com a segurança pessoal, ele não quer ser
identificado.
A
mulher do morador que encontrou o mineral de quase 40 kg conta que a família
mal tem saído de casa.
“Isso
virou um pesadelo. A gente passou uns dias sem comer e dormir. O objeto tem
valor e todos têm interesse aqui, não são só os daqui. Se não tivesse valor,
ninguém viria atrás, até do exterior”, relata a mulher do morador.
No
momento da chuva dos fragmentos em Santa Filomena, o morador disse que ouviu o
estrondo, mas só ficou sabendo do que se tratava depois. Dias após o fenômeno,
ele decidiu procurar em sua propriedade se as pedras haviam caído por lá ou na
região, na zona rural do município.
“Na
quinta-feira (27), um morador me deu informação de onde houve um grande abalo,
um estrondo, uma pancada, como se tivesse enfiado algo no chão. Ele me informou
uma localização. Comecei as buscas no amanhecer. Quando foi por volta das 8h30
da manhã, consegui localizar a pedra”, conta.
Segundo
ele, o fragmento estava enfiado no solo. “Eu retirei e levei até uma estrada
aproximadamente 2 km de distância dali, na mão, dentro da Caatinga, até chegar
na minha moto. Aí trouxe para a cidade”, relata.
Ainda
sem acreditar no tamanho do achado, o homem procurou os pesquisadores para
informar sobre a pedra de quase 40 kg que tinha caído em sua propriedade. Mas a
repercussão do comércio das pedras foi tamanha que acabou com o sossego da
família.
“A
gente acha uma pedra dessa, e o pessoal já pensa que a gente virou milionário.
Não é bem assim. A gente está muito tenso”, disse o homem que encontrou o meteorito.
O
diretor-secretário da Sociedade Brasileira de Geologia e professor do
Departamento de Geologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Fábio
Machado, analisou imagens da pedra encontrada pelo morador de Santa Filomena.
Para ele, trata-se de um meteorito – só falta saber de que tipo.
“Precisamos
de testes para cravar que é do tipo condrito, mas é um meteorito. É uma
importante amostra”, afirmou Machado.
Meteorito
do tipo condrito é um mineral importante para a ciência porque tem mesma
composição química do início do sistema solar, formado há mais de 4,6 bilhões
de anos.
“Os
condritos são os melhores fragmentos de meteoritos para se estudar a formação
do sistema solar porque representam fielmente a composição química no início da
formação dos planetas rochosos. Isso quer dizer que as pedras que caíram em
Santa Filomena são mais antigas que a própria Terra”, explica Machado.
O
professor ainda explica que, antes de entrarem na atmosfera terrestre, os
fragmentos que choveram em Santa Filomena eram, provavelmente, uma peça só. Mas
o tamanho exato desse meteoro – quando estão no espaço, as pedras são chamadas
de meteoro, mas quando caem na Terra passam a ser meteoritos – é difícil de
prever.
“Quando
o meteoro entra na atmosfera terrestre, ele queima, então se divide em vários
fragmentos”, explica Machado.
Segundo
moradores, entre 100 a 200 fragmentos, incluindo a peça de quase 40 kg, caíram
do céu no município sertanejo.
‘Foi
Deus que mandou
A
família que encontrou o maior meteorito do sertão pernambucano conta que a
pedra está em um cofre fora da propriedade. Apesar do susto e do medo, eles
pensam em comercializá-la, mas por um preço justo.
“Eu
acredito que foi Deus que mandou pra gente, porque caiu dentro da nossa
propriedade. A gente tem que segurar [a pedra] mesmo”, diz a mulher do homem
que encontrou a pedra.
Conforme
o G1 apurou, algumas pedras foram comercializadas pelos moradores à caçadores
de meteoritos estrangeiros por até R$40 o grama, o que faria do meteorito de
quase 40 kg ter um valor milionário. Um amigo que tem representado a família na
comercialização da pedra contou que os mesmos caçadores ofereceram, contudo,
‘apenas’ R$120 mil.
“A
gente teve proposta, mas foi gente querendo se aproveitar e isso não nos
interessa. Não temos pressa em negociar a pedra de forma alguma. A gente não
deu preço a essa pedra. Não tivemos negociação com ninguém”, enfatizou a
esposa.
A Prefeitura de Santa Filomena afirmou que ainda não sabe como proceder nesse caso, já que o município não tem uma legislação própria em caso de meteorito. Por telefone, o prefeito do município, Cleomatson Vasconcelos, afirmou que o município não tem condições financeiras de manter o meteorito por lá.
Fonte: G1 Petrolina
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